sexta-feira, 6 de abril de 2012

Les mains de Jeanne-Marie, Arthur Rimbaud

As mãos de Jeanne-Marie


(O manuscrito foi descoberto em 1919 por Raul Bonnet.
Este poema é uma homenagem à ação das mulheres da classe
operária durante a Comuna de Paris).


Jeanne-Marie tem mãos fortes,
Mãos escuras que o verão curtiu
Mãos pálidas como mãos mortas
- São as mãos de Juana?


Elas pegaram os cremes marrons
Sobre os charcos das volúpias?
Elas se encharcaram nas luas
Nas fases de serenidades?


Elas beberam os céus bárbaros,
Calmas sobre os joelhos charmosos?
Elas enrolaram charutos
Ou traficado diamantes?


Sobre os pés ardentes das Madonas
Elas estiolaram as flores de ouro?
É o sangue negro das beladonas
Que em sua palma eclode e dorme.


Mãos caçadoras de dípteros
Dos quais arqueiam azulamentos
Aurorais, rumo aos nectários?
Mãos decantadoras de peixes?


Ó! que sonho as cativou nas pandiculações?
Um sonho insólito das Ásias, dos Khenghavares ou dos Sions?


- Estas mãos não venderam laranjas,
Nem queimaram sobre os pés dos deuses:
Estas mãos não lavaram as fraldas
De pesadas crianças sem olhos.


Não são mãos de pretensão
Nem de operárias de testas grandes
Que incendeiam nos bosques o cheiro da usina
Um sol ébrio de alcatrão.


São vergadoras de espinhas,
Mãos que não fazem mal jamais,
Mais fatais que as máquinas,
Mais fortes que todo um cavalo!


Se agitando como fornalhas,
E sacudindo todos os arrepios,
Sua carne canta as Marselhesas
E jamais os Eleisons!


Isso apertaria vossos pescoços, ô mulheres
Maldosas, isso trituraria vossas mãos,
Mulheres nobres, vossas mãos infames
Plenas de brancos e carmins.


O brado destas mãos amorosas
gira o crânio das ovelhas!
Em suas falanges saborosas
O grande sol coloca um rubi!


Uma missão de populacho os queima
Como um ventre de ontem;
O dorso destas Mãos é o lugar
Em que se beijou todo revoltado orgulhoso!


Elas empalideceram, maravilhosas,
Ao grande sol de amor sobrecarregado,
Sobre o bronze das metralhadoras
Através da Paris insurrecta!


Ah! algumas vezes, ô mãos sagradas,
Em vossos punhos, mãos onde tremem nossos
lábios jamais ficam sóbrios,
Apregoa-se uma cadeia de claros anéis!


E é um sobressalto estranho
Dentro de nossos seres, quando algumas vezes,
Quer-se vos rebocar, mãos de anjo,
E vos fazendo sangrar os dedos.


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NT>:Alusão à repressão de Versailles. Houve por volta de 20.000 mortos entre os da Comuna. Comboios de prisioneiros foram levados a Marseille: 150 a 200 por dia, ligados
mão a mão por fileiras de quatro (=cf. "Crie une chaine aux clairs anneaux) .Eles foram
insultados e batidos pela multidão dos snobs e dos elegantes. De onde: "En vous faisant
saigner des doigts")



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