terça-feira, 17 de abril de 2012

L'Azur, Stéphane Mallarmé

                                    O Azul


Do eterno azul a serena ironia
Esmaga, bela indolentemente como as flores
O poeta incapaz que maldiz seu gênio
Atravessa um estéril deserto de Dores.


Fugidio, os olhos fechados, eu o sinto que olha
Com a intensidade de um remorso aterrador,
Minha alma vazia. Para onde fugir? E qual noite alucinada
Lançar, fragmentos, lançar este desprezo desolador?


Nevoeiros, elevam-se! Derramai vossas cinzas monótonas
Com os longos farrapos de bruma nos céus
Que escurecerão o pântano lívido dos outonos,
E edificai um grande teto silencioso.


E tu, sai dos lagos infernais e recolhe
Vindo o vaso e os pálidos juncos,
Caro tédio, para tapar com uma mão jamais cansada
Os grandes buracos azuis que maldosamente fazem os pássaros.


De novo! que sem trégua os tristes chaminés
Fumam, e que de fuligem uma errante prisão
Desvanece no horror de seus negros sulcos
O sol morrendo amarelado no horizonte!


- O Céu está morto. - Em tua direção, eu acudo! Dá-me, ô matéria,
O esquecimento do ideal cruel e do Pecado
A este mártir que vem partilhar a liteira
Onde o gado feliz dos homens está deitado,


Pois eu quero, já que afinal meu cérebro esvaziado
Como o pote de creme jaz ao pé do muro,
Não tem mais a arte de vestir a soluçante ideia,
Lugubremente bocejar para uma noite obscura...


Em vão! o Azul celeste triunfa, e eu o escuto quem canta
Nos sinos. Minha alma se faz voz para mais
Nos fazer medo com sua vitória maldosa,
E do metal vivo sai em azuis Ângelus!


Circula pela bruma antiga e atravessa
Tua nativa agonia assim como uma espada certeira:
Para onde fugir na revolta inútil e perversa?
Eu estou assombrado. O Azul! O Azul! O Azul! O Azul!

2 comentários:

  1. Que sensível . Tua tradução mostra a alma ...de quem? Ora, ora...coprodução, não? Parabéns, Yara. Bjs, Nilce.

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  2. Pois assim me sinto fazendo..., Nilce.
    Obrigada

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