Ferva até engrossar: pés, pele, cartilagem,
ossos, vértebras, músculo do coração, ferva
até engrossar, raspe, e ferva
de novo, sonhos, história, adicione-os e ferva
de novo, ferva e escume
em caldeirões fechados, ferva seu cavalo, seus cascos,
o cachorro atropelado que você amava, a garota
perto do apontador de lápis
que olhou para você, desviou o olhar,
ferva tudo por horas, devolva
da origem, pegue mais do topo conforme mais se acomoda no fundo,
o mais pesado, o mais denso, lance aí a dor
e o esperma, e uma gota
de suor que desliza de sua axila para a cintura
enquanto você sentava rijo de costas antes de um teste, acenda
o fogo, ferva e escume, ferva
um pouco mais, adicione uma febre
e o vírus que cegou um olho, agora é hora
de acrescentar a culpa e o medo, lance
lenha na fogueira, carvão, gasolina, lance
dois peixes-dourados na panela (suas bexigas natatórias
usadas para "compensação"), exprima
isso e destile,
concentre
naquilo pelo qual não há
absolutamente outro uso, engrosse, grosso, resuma,
então mexa tudo com água-de-rosas, aquela
que é agora uma densa, adiposa, cheirosa essência vermelha
que você lambuza nos lábios
e segue adiante
a plantar tantos beijos sobre o mundo
quanto o mundo possa aguentar!
Tradução de Yara Azevedo Cardoso
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